segunda-feira, 6 de abril de 2009

PRONTIDÃO


O primeiro poema foi em pleno vôo. O segundo em calmo pouso sobre a lâmina do tempo. Vieram outros a desafiar a veia do poeta: exigir do poeta as palavras certas para traduzir aquele deslumbramento que o poeta sentia pela vida. Eis que o poeta entrou em prontidão: para tudo tinha um mote, para cada evento e circunstância sacava do embornal um poema pobre, às vezes embrulhado em papel de pão. Festejaram o poeta e o poeta virou artista. Ficou bobo, perdeu prumo e compostura. Cismou de versejar em velório, aniversário. Tanta rima, tanto metro que pegou o sestro de entortar a boca num esforço imenso. Mas isso vinha somar ao charme do poeta. O poeta doido, o poeta extravagante, o poeta em seu direito. Bem que aproveitou, beijou bocas que jamais lhe sorririam se não fosse poeta oficial, deu muitas entrevistas aos jornais, vendeu livros, ganhou fama, acumulou um capital. Mas não deu conta. Um belo dia, sem aviso prévio, o poeta desistiu de poetar.