quarta-feira, 27 de julho de 2011

arte em transe

meu corpo em trânsito pelas ruas da cidade, minha imagem gravada na pintura dessa manhã luminosa, minha escultura exposta às intempéries, gotas de chuva ácida patinando o bronze da minha pele, minha sombra projetada na tela da noite insana, minha arquitetura em plena restauração, minha nudez em cena, minha figura inscrita na paisagem, meu olhar sondando alguma trilha incerta, meu gesto desenhando alterações de rumo, vontade de navegar à deriva e passar ao largo dos ancoradouros, ânsia de rasgar os mapas e me guiar pelas estrelas, meu ofício costurando a corrosão do tempo, minha trama em transparência, minha teia, meu tecido, minha vida em risco, minha arte caminhando para a urgência do nada absoluto onde mora a poesia sem palavras.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

EUTANÁSIA

Vamos firmar um trato:

se um dia o nosso amor desfalecer

e só sobrar no fundo uma palavra fria

por mais que pese a dor de nos perder

nenhum de nós tentar nutrir sua agonia

muito menos prolongar seu padecer

melhor a eutanásia súbita, a casa vazia

e o silêncio de quem fez por merecer

viver de amor pra não morrer.