quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

CRÔNICAS DO ENQUANTO

Tantas vezes eu quis morrer e destruir os objetos ao meu redor, jamais tive vontade de matar alguém que não fosse eu mesma nem acabar com qualquer coisa que não fizesse parte de mim. Meus surtos de violência atingem coisas minhas, tenho prazer em quebrar os meus cristais contra a parede da minha casa, meus espelhos, tenho ganas de despedaçar tudo o que me prende à vida cotidiana, despetalar a rosa dos meus sonhos, nunca fui capaz de agredir outra pessoa que não seja eu, por isso acho que não sou uma mulher perigosa como querem provar os promotores de justiça, afinal devo ter o direito de atentar contra a minha vida, só contra mim e mais ninguém. Ontem me ligou meu filho na obrigação de me convidar para o seu casamento em Goiânia e me ligou cheio de cuidados, afinal sou a única mãe deste único filho e não cairia bem ele casar sem a presença da mãe dele, mas ele quer escolher o meu vestido, o meu sapato, quer saber como vou me apresentar no casamento dele, quer mandar alguém para receber-me na rodoviária e garantir que não vou chegar bêbada ao enlace dele, não quer passar vexame, faz questão da minha presença mas quer me pentear para a cerimônia. Ninguém da família dela pode saber que eu já cumpri penitência nessa vida, poucos saberão que hoje vivo mais ou menos equilibrada, escolhi um vestido verde musgo e me disseram que é a mesma cor do tapete onde os noivos pisarão na entrada da igreja, então eu disse melhor assim rolaremos pelo chão ton-sur-ton e todos os padrinhos e convidados pisarão sobre nós com a elegância deles, ainda não sei se devo ir ou não. O que você acha?


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